27 de setembro de 2010

Mulher maravilha 2010

Postado por Amanda Mirasierras na segunda-feira, setembro 27, 2010
Desde que posso me lembrar, a minha mãe trabalhou fora. Ela é fonoaudióloga e atende no consultório; quando eu era mais nova, ela também trabalhava na escola onde eu estudava - fato esse que me permitiu ser bolsista até a oitava série.

Nunca tivemos empregada. Durante o período em que a minha mãe trabalhou na escola e teve um registro profissional, tivemos uma "ajudante" que ia em casa duas vezes por semana para limpar e passar roupas. Com exceção desse período de poucos anos, a minha mãe sempre lavou, passou, cozinhou e cuidou de mim e do Thiago. Até hoje ela faz isso (quer dizer, hoje eu e o Thiago já quase conseguimos tomar conta de nós mesmos), e em casa temos faxineira a cada 15 dias.

Eu e todas as minhas amigas somos de uma geração que foi criada para ter uma profissão. Nós estudamos, nos formamos e batalhamos por bons empregos, bons salários e carreiras promissoras. Isso significa, quase sempre, trabalhar das 8h às 17h. Moramos em São Paulo, pegamos trânsito e ficamos cansadas diariamente. Ou seja, nós não levamos a vida das nossas mães. Para nós, é realmente impossível conciliar trabalho dentro e fora de casa.

Nós precisamos de alguém para cuidar da nossa casa, afinal chegamos cansadas e não queremos passar uma pilha de roupas. Talvez alguém tenha que fazer a nossa comida, ou correremos um grande risco de comermos ora lasanha congelada, ora pizza. Nós pensamos em ter filhos um dia. Nossos filhos ficarão em casa com a empregada, ou então sairão bem cedo conosco e passarão o dia inteiro na escola/creche. O tempo que teremos para ficar com eles será curto, e precisará ser usado para brincar e educar. Não parece ser fácil.

Na prática, todo esse blablabla de feminismo e suposta igualdade entre os sexos serviu para uma grande verdade: embutir na mulher um eterno sentimento de culpa. Culpa por não ter tempo para cuidar da sua própria casa como gostaria, culpa por não poder estar mais próxima dos filhos, culpa por não dar tanta atenção aos pais. Porque as oportunidades de trabalho podem ter mudado, mas a mulher continua crescendo com um instinto muito grande de cuidadora. Nós queremos fazer nossas coisas, dedicar tempo, deixar bonito, fazer direito. E não dá mais tempo.

Não sei qual é a solução para esse impasse. Não acredito que seja uma questão de dividir as tarefas com o namorado/marido/pai do seu filho, porque a verdade é que nós não queremos delegar tudo. Talvez seja uma questão de ser criada de forma diferente, para que possamos crescer sem essa vontade de abraçar o mundo.

Se a opção for por uma carreira de sucesso, empregada e babá, acredito que parte de nós ficará sempre um pouco balançada ao deixar o bebê resfriado na escolinha. E se a opção for trabalhar meio período para cuidar da casa e da cria, outra parte de nós poderá ficar entristecida pelas oportunidades profissionais que vão se tornando cada vez mais escassas com o passar do tempo.

Eu estou começando agora a cuidar da minha casa, e ao mesmo tempo procuro emprego desesperadamente. Quero voltar a trabalhar, quero conseguir um emprego bacana e ter um bom salário. Não vejo a hora de fazer minha pós e retomar o inglês. Mas eu estou gostando muito de cuidar da minha casa, e não sei se ficaria feliz se tivesse que colocar alguém aqui dentro para temperar o meu feijão. E daqui a uns anos, quando eu resolver ter filhos... bem, nem dá para pensar em como será.

Resposta certa, não existe. Mas o que você acha?

3 comentários:

Tata on 29 de setembro de 2010 às 14:40 disse...

Eu não faço questão de cuidar de tudo não, por mim podia delegar tudinho! Tanto que eu acho que a moça que vai la em casa de 15 em 15 (se quiser eu te indico) dias faz tudo melhor que eu! fora que não tem coisa mais gostosa do que sentir a casa cheirosinha e vc não ter movido um dedo pra isso! heheh

La em casa o Fe e eu super dividimos, e tem gente que até diz que eu escrevizo ele!

Um dia desses a gente estava brincando que quando eu tiver filho ele que vai parar de trabalhar pra cuidar das crianças e eu disse que ok, se ele limpar a casa, deixar minha roupa lavadinha e passada pro trabalho e fizer o jantar eu até dou uma mesada pra ele!!!! huauhahuaauh Então, de verdade, eu não me importo em delegar!

Mas eu sempre me desespero quando penso nesse assunto filhos, pq eu sai de casa às 8 da manhã e chego 8 da noite, no minimo. Onde eu vou encontrar uma escolinha de 12 horas?? E QUE DÓ deixar aquela coisinha pequenina por 12 horas numa escola né? Eu realmente quero ter tempo de cuidar da criança, participar ativamente, ver as gracinhas, os tombos.. então trabalhar meio período realmente está nas minhas opções. Acho que eu me arrependeria mais se deixasse minha filha de lado pra me dedicar ao trabalho e depois levasse um pé na bunda do chefe.

Ci on 3 de outubro de 2010 às 01:22 disse...

Amanda, acho que vocÊ tem que aproveitar enquanto pode cuidar, mas quando aparecer o emprego, arrume uma faxineira e sinta o cheirinho do trabalho que ela fez! =)

Já os filhos...

Jussara on 8 de outubro de 2010 às 02:27 disse...

oi, Amanda,
Esse assunto é complicado e dá pano pra manga. Fomos criadas com outra mentalidade. Mas hoje, lendo alguns blogs de mães, vejo que muitas vezes não é fácil pra mulher ter que colocar o filho tão cedo em creches ou escolas. Algumas fazem isso sem culpa, com a justificativa de que têm que trabalhar, e têm mesmo (ou querem). Outras, mesmo as mais modernas e independentes, optam por deixar de trabalhar pelo menos por um tempo pra cuidar melhor dos filhos. Confesso que eu não saberia o que fazer, mas não gosto da ideia de ter que colocar um bebê de 4, 6 meses numa creche (não para os meus futuros filhos). Minha mãe tb sempre trabalhou fora, muitas vezes os 3 períodos, e eu sentia muito a falta dela. Então, não sei até que ponto vale tudo por uma carreira ou profissão. Claro que a mulher tem que ter a sua satisfação/realização pessoal/profissional, afinal, a vida não é feita só de filhos, mas aí vai de cada uma. Acho que o namorado/marido pode e deve ajudar, sim, não apenas ajudar, mas compartilhar mesmo tarefas e obrigações. E no caso da mulher optar por ficar em casa, ele deve apoiá-la ( e sustentá-la, o que pra maioria sei que é difícil aceitar; ninguém quer depender de marido, afinal, como vc disse, fomos criadas pra termos uma profissão). É uma faca de dois gumes. Não condeno nem julgo quem opta por uma ou outra direção. Cada um faz o que acha melhor.
Ufa, desculpe o comentário enorme.
Se te interessar, tem um texto ótimo sobre isso aqui:
http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com/2009/08/midia-e-feminismo-tudo-em-nome-do.html

 

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