10 de maio de 2010

Sabe o que você faz com essa língua?

Postado por Amanda Mirasierras na segunda-feira, maio 10, 2010
A pessoa vira para mim, faz a cara mais espantada do mundo e manda: "noooossa, mas você emagreceu, heim!" Eu quase explico que perdi peso depois de ter mudado de pílula, mas não vendo a necessidade disso, digo que acho que perdi um quilo. Aí a pessoa emenda que está nítido, que existem suplementos alimentares, que eu poderia malhar para ganhar massa, e vai metralhando com uma feição que varia entre o desdém e o espanto. Eu pergunto: você teria coragem de falar para alguém que noooossa, como ele engordou, que ele deveria tomaria tomar umas anfetaminas e suar muito na esteira para queimar banha?

Não serei hipócrita ao ponto de dizer que já sofri preconceito por ser magra, mas afirmo que é horrível ser medida por alguém que me olha como se eu tivesse anorexia ou leucemia. Ninguém acha que ofende ao perguntar se eu como, o que eu como e quantas vezes por dia. Eu, idiota que sou, muitas vezes fico explicando que sempre fui magra, que como super devagar, que não gosto muito de doces, quase me desculpando por estar perto dos 50kg. É constrangedor. Mas como eu sou magra, parece que ninguém pensa no quanto isso pode ser ruim.

Ao começar esse texto, pensei em listar aqui algumas situações em que eu me senti péssima por ser magra. Mas aí eu percebi que isso não acontece só em relação a minha magreza. Algumas pessoas realmente não tem noção alguma de bom senso e ficam enchendo o saco com um monte de perguntas e opiniões que não dizem o menor respeito a elas.

Tem gente que gosta de debochar dos hábitos alheios. Pessoas que comentam sobre as músicas que eu ouço ou sobre os livros que leio com aquele arzinho superior, sabe? Como se eu fosse uma retardada por gostar de ter cultura. São as mesmas pessoas que riem ao saber que eu quero aprender a costurar, porque isso deve ser coisa de idiota. Pessoas que acham um absurdo eu não querer mais fazer mestrado ou doutorado, porque se eu dizia que era isso que queria e agora mudei de idéia, sou uma alienada que não sabe o que quer da vida.

Aquelas pessoas que gritam um "O QUÊ??" nervoso quando ficam sabendo que eu vou fazer outra faculdade e mudar de profissão. Que fazem questão de esquecer qualquer coisa de ruim que eu possa ter vivido para afirmar categoricamente que eu sou a pessoa mais feliz, sortuda e abençoada do universo porque vou me casar. E que dizem, é claro, que eu devo ser podre de rica para dar uma festa em comemoração à data. São as mesmas pessoas que dizem que eu sou louca quando me pegam lendo ou estudando sobre budismo.

Você conhece essas pessoas, não conhece? Tenho certeza que sim. Sei que há alguém perto de você sempre a postos para julgar, rir da sua cara e se espantar com as suas decisões. O mundo está cheio de pessoas na sala de jantar.

Eu nunca me permito afirmar que tais atitudes são "de mulher" ou "de homem", mas sou obrigada a admitir que palpitar na vida alheia sem o menor tato (e muitas vezes sem a menor intimidade ou abertura para isso) é uma atitude tipicamente feminina. Não que todas as mulheres sejam assim, mas a maioria das pessoas que é assim é mulher.

Parece que mulher nunca quer ver outra mulher feliz. Então ela, a dona-da-verdade-que-tem-sempre-uma-opinião, precisa dizer, por exemplo, o quanto é feio você estar mais magra. Se eu vou me ofender com isso? Mas é claro que não, porque a Amanda nunca se ofende com nada e todo mundo pode descer a lenha sem dó!

Como a paciência definitivamente não é uma das minhas virtudes, de hoje em diante vou dizer que estou magra porque meu laxante faz muito efeito. Que eu amo Beatles porque sou brega e maconheira, que ainda assisto Arquivo X porque sou uma nerd sem vida social e que vou fazer outra faculdade pra ver se consigo algo na vida além de marido com bom emprego.

E aí, linguaruda? Tá satisfeita agora?

5 comentários:

Tata on 11 de maio de 2010 às 11:56 disse...

As pessoas podem falar qualquer coisa que vier a cabeça delas, sem ao menos pensar a respeito... mas cada um sabe da sua vida né? Cabe a gente não dar atenção a esse tipo de coisa!

Marta Zanetti on 11 de maio de 2010 às 14:38 disse...

Amanda, me identifiquei muito com este texto. Fico muito mal quando as pessoas começando a palpitar na minha vida como se eu simplesmente não fosse me chatear. Apesar de ser uma atitude bem mais feminina do que masculina, a vez que eu mais me magoei foi quando um ex chefe veio perguntar se eu estava doente pois estava muito magra. Achei uma invasão tão absurda na minha intimidade! O jeito é ter respostas prontas pra este tipo de pergunta mesmo.

bjos

Amanda Mirasierras on 11 de maio de 2010 às 23:46 disse...

Não sei se a questão maior é não dar atenção, Tata... não dar atenção é até fácil, por mais que possa encher o saco. O que me impressiona mais é a necessidade de falar dos outros, mesmo que os outros estejam cagando e andando.

Sheila disse...

Eu apoio a magreza, acho lindo....apoio fazer outra faculdade, apoio casar, apoio descasar...apoio tudo que nos faz bem e que nos deixa feliz....tentar, recomeçar, mudar, emagrecer, engordar, na hora que a gente quiser. Somos livres pra isto.E quanto ao Zé povinho...BLAH pra eles.

on 19 de maio de 2010 às 20:42 disse...

"Bigmouth strikes again"! Também ouço umas dessas as vezes, Amanda. E infelizmente a ignorância é tanta que não vai mudar, pelo menos não tão cedo, portanto... criemos filtros auditivos! hahaha =/
Beijos!

 

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