30 de julho de 2009

Escritoras brasileiras do passado e desconhecidas

Postado por Convidados na quinta-feira, julho 30, 2009
Toda a história das mulheres foi escrita pelos homens.
(Simone de Beauvoir – O segundo sexo)



Amandinha Mirasierras, que nome poético, não? Very thankx pelo convite para participar deste blog batizado com nome tão passional. Será que nós, mulheres, somos mesmo assim, umas desvairadas, que gastam uma nota na maquiagem pra borrar depois tudo com choro? É caso de se pensar.

Bem, de uma coisa eu sei-o... nós sempre soubemos colocar a mão na massa, mesmo em condições adversas. E nada de pensamentos poluídos quando utilizo o substantivo “massa”, meninas. O que quero afirmar é que já tivemos belos exemplos femininos no passado, ainda que estes não tenham chegado até nós, ou ainda que não sejam muito divulgados.

Permitam-me que eu me apresente: carioca, escritora, poeta e professora universitária. Foi na vida acadêmica, ainda na Graduação da Faculdade de Letras, que concluí na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, quando estava no terceiro período, que comecei a pesquisar o assunto que aqui trago à tona, em um pedacinho: escritoras brasileiras do passado e desconhecidas. Esta pesquisa entrou pelo Mestrado, culminando na dissertação sobre Patrícia Galvão, a nossa Pagu. No Doutorado deixei o assunto mulherio meio de lado e caí de boca na Mama África, mas enquanto professora da Faculdade de Letras, responsável pela disciplina Literatura Contemporânea, continuei a divulgar estas pesquisas que me empolgaram desde sempre.

A produção feminina no século XIX
Como precisarei ser concisa, vou pontuar alguns nomes e trajetórias que a crítica literária tem deixado, até hoje, de lado, mesmo nos conteúdos estudados nas Faculdades de Letras, área em que trabalho: a primeira mulher a escrever um livro no Brasil foi a paulista Teresa Margarida da Silva e Orta, com Aventuras de Diófanes, em 1752. E pensar que somente em 1930, quase cem anos depois, haveria o voto feminino nas eleições!

A carioca Nísia Floresta, em 1847, nos trouxe o seu Fany ou o modelo das donzelas. Vale a pena observar que os contextos em que as duas obras foram publicadas são diferentes, pois que enquanto o livro de Teresa evoca as virtudes das “boas meninas”, o de Nísia, uma mulher ousada pra época, que se separou e casou com um homem bem mais jovem (uma espécie de priminha da Chiquinha Gonzaga), apontava os rumos de uma produção atrelada à participação ativa das mulheres brasileiras, que tentavam obter os mesmos direitos já alcançados pelas inglesas. Em 1885, a baiana Ana Ribeiro lança um romance sobre a escravidão, em pleno romantismo. O título? O anjo do perdão, mas permanece desconhecido, atribuindo-se ao tema escravidão, daquela época, somente ter sido abordado em termos literários, na poesia, por Castro Alves.

Em 1887, a também carioca Júlia Lopes de Almeida estreou nas letras com seu romance Traços e iluminuras, e teria sido a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, se na hora H seu nome fosse preterido ao de seu marido, que nem obra literária expressiva tinha... Dez anos depois, em 1897, Carmen Dolores publica um livro de contos, Gradações. Júlia e Carmen são as únicas que costumam aparecer em algumas antologias, ao lado das consagradas Cecília Meireles, Rachel de Queiroz e Clarice Lispector – para citar autoras da primeira metade do século, embora a primeira autora, Teresa Margarida, tenha surgido no século XVIII e isso não seja divulgado.

Consegui ler quase todas essas obras e uma das que muito me impressionou foi Lésbia, de 1890, da gaúcha Maria Benedita de Bormann, no qual ela evidencia muitos dos preconceitos sofridos pelas mulheres da época. Apesar do radical da palavra remeter ao termo lesbianismo, não se trata de tematizar o homossexualismo feminino e sim ter como motivo a ilha grega de Lesbos, na qual vivia a poeta Safo, cujo nome derivou em safada(o). É mesmo difícil ser independente e do sexo frágil...

Interessante também é Mameluco, da baiana Amélia Rodrigues, publicado em 1888, em pleno ano da abolição da escravatura no Brasil, visto que aborda a temática étnica de valorização da miscigenação, assunto considerado perigoso para o modelo eurocêntrico que moldava as mentes tropicais.

E um pouco da produzida no século XX
Em 1902, a cearense Francisca Clotilde abre o século com o ousado A divorciada. Basta saber que o divórcio só foi legalizado no Brasil em 1977! Parece que a mulherada ficou animada com o advento da República, quem sabe? A carioca Albertina Bertha lança o primeiro romance erótico que se tem notícia escrito por uma mulher brasileira, Violeta, em 1926. Na mesma esteira, veio a paulista Ercília Nogueira Cobra, com o contundente Virgindade inútil, novela de uma revoltada, que saiu em 1927.

Essas obras são significativas de um novo momento, em que aspectos morais e sexuais são trazidos para a discussão, numa sociedade que, embora republicana, ainda conservava as marcas patriarcais.

Como o espaço é pequeno, deixo uma sugestão de leitura para quem quiser pesquisar mais sobre o assunto. O maravilhoso, Dicionário crítico de escritoras brasileiras de Nelly Novaes Coelho, da editora Escrituras, publicado em 2002, em cujas quase 800 páginas, vocês encontraram essas e outras escritoras, que mesmo depois de tanto esforço, continuam no ostracismo.

Norma Lima, Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense devidamente apresentada, nos brinda hoje com seus conhecimentos acadêmicos femininos e traz um pouco de cultura às nossas vidinhas vulgares

7 comentários:

Amanda Mirasierras on 30 de julho de 2009 às 13:38 disse...

Norma, Norma... não sei se agradeço sinceramente pela sua dedicação ao blog ou se fico muito puta por vc ter tornado árdua a tarefa de produzir bons textos a partir de agora! hahahahahaha
Obrigada, querida, beijos.

Tata on 30 de julho de 2009 às 17:20 disse...

Até que enfim alguém trouxe um pouco de cultura pra esse blog!!!

Ci on 30 de julho de 2009 às 22:03 disse...

Ai ai, eu posso não postar amanhã???

Vão me acha muito fútil!!!

=)

Norma Lima on 31 de julho de 2009 às 07:58 disse...

Vamos lá, mulherada!
Não é um absurdo elas e tantas outras serem desconehcidas?
Beijos.

Taís Victa on 10 de maio de 2011 às 19:03 disse...

Ei, Norma! Nem encontro palavras!
Vou aproveitar, já que estou completamente absorvida nas minhas descobertas com Emília Freitas!
ABRAÇOS!

Taís Victa

Joyce Mobley - Psicoterapeuta Holìstica CRT 42510 on 11 de maio de 2011 às 13:28 disse...

Há anos faço pesquisas sobre temas ligados à MULHER (sempre com todas as letras maiúsculas - não poderia escrever "em maiúsculo", pois deitaria a "pontinha do dedinho do meínho", no universo masculino); nestes anos passei pelas pesquisas de famílias monoparentais, pluriparentais, homoparentais, sempre sobre a perspectiva feminina.
Acabo de encontrar um tema fascinante para novas pesquisas, e, uma não menos fascinante, orientadora.
Amei o post!
Abraços de brisas perfumadas,
Joyce Damy Mobley

Unknown on 27 de julho de 2015 às 16:23 disse...

Alguém sabe onde consigo download dos livros Violeta e Virgindade Inútil? Não consigo achar o download nem onde comprar!

 

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